Moinhos de papel.
De uma das aldeias mais
recônditas de Trás-Os-Montes, saiu um jovem de 15 anos, estrada fora, deixando
para trás a mãe e quatro irmãos mais novos, embebidos numa miséria profunda.
Depois de palmilhar mais de 300
quilómetros, sabe Deus como, à procura de uma vida melhor, foi bater à porta de
um casal que, ao vê-lo tão franzino e faminto logo lhe preparou uma refeição
pensando tratar-se de mais um pedinte como tantos outros que por ali vagueavam.
Depois do forasteiro contar o
motivo pela qual o trouxera até ali o casal em questão condoeu-se do pobre
rapaz e deu-lhe guarida com a finalidade de ali ficar a trabalhar nas lides da
casa a troco de um soldo, de acordo de ambas as partes, não obstante o referido
casal ter filhos de idades próximas ao recém-chegado.
O jovem não só se adaptou bem ao
casal e ao trabalho, como à sociedade, vindo a integrar-se num grupo de teatro
e fazer parte da equipa de futebol (extremo direito) da aldeia.
A mãe, assim que soube do
paradouro do filho, e como mãe é mãe, pensou logo em fazer-lhe uma visita, mas,
a grande distância e as dificuldades financeiras obstavam a desejada visita.
O filho, embora satisfeito com a
nova situação, ia lutando contra as saudades da mãe e dos irmãos.
Um belo dia, a mãe embebida numa
grande fé à Nª Senhora de Fátima, pôs-se a caminho com outro filho, em
peregrinação a Fátima sem antes, porém, passar pela aldeia perto de Fátimae
onde estava o seu filho.

O casal, não ficou indiferente
àquela triste cena e logo os levou para casa onde estiveram uns dias
instalados.
O irmão mais novo teria uns 12
anitos e levava como missão de vender água e fazer moinhos de papel em
Fátima com a finalidade de angariar alguns tostões para cobrir as despesas da
viagem. (Estávamos na década de 40 do sec XX. não havia água canalizada em Fátima
e era vendida em cântaros de barro a dois tostões cada copo.)
Durante os poucos dias que o
irmãozito passou na minha aldeia, brincou connosco, e num dos momentos que
estava junto de nós com uma grande tristeza disse que não podia fazer moinhos
de papel porque precisava de uma navalha e não a tinha.
Depois de ouvir tal lamento, fui
a minha casa `que, depois de procurar em várias gavetas, fui encontrar uma
navalha já com bastante uso. Metia no bolso sem que meus pais se apercebessem e
fui dá-la ao rapaz. Agarrou-se a mim a agradecer-me e disse:
-Estou muito feliz porque já posso fazer moinhos de papel para
vender!...
Como é que uma simples navalha,
ferrugenta de tantas vindimas já ter feito, foi motivo de tão grande alegria
para aquele rapaz e para mim porque com tão pouco consegui fazê-lo tão feliz.
História verdadeira
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