quarta-feira, 4 de maio de 2016

Moinhos de papel

Moinhos de papel.

De uma das aldeias mais recônditas de Trás-Os-Montes, saiu um jovem de 15 anos, estrada fora, deixando para trás a mãe e quatro irmãos mais novos, embebidos numa miséria profunda.

Depois de palmilhar mais de 300 quilómetros, sabe Deus como, à procura de uma vida melhor, foi bater à porta de um casal que, ao vê-lo tão franzino e faminto logo lhe preparou uma refeição pensando tratar-se de mais um pedinte como tantos outros que por ali vagueavam.
Depois do forasteiro contar o motivo pela qual o trouxera até ali o casal em questão condoeu-se do pobre rapaz e deu-lhe guarida com a finalidade de ali ficar a trabalhar nas lides da casa a troco de um soldo, de acordo de ambas as partes, não obstante o referido casal ter filhos de idades próximas ao recém-chegado.
O jovem não só se adaptou bem ao casal e ao trabalho, como à sociedade, vindo a integrar-se num grupo de teatro e fazer parte da equipa de futebol (extremo direito) da aldeia.
A mãe, assim que soube do paradouro do filho, e como mãe é mãe, pensou logo em fazer-lhe uma visita, mas, a grande distância e as dificuldades financeiras obstavam a desejada visita.
O filho, embora satisfeito com a nova situação, ia lutando contra as saudades da mãe e dos irmãos.
Um belo dia, a mãe embebida numa grande fé à Nª Senhora de Fátima, pôs-se a caminho com outro filho, em peregrinação a Fátima sem antes, porém, passar pela aldeia perto de Fátimae onde estava o seu filho.
No acto do encontro, foi comovente ver aquela mãe, exausta da viagem, abraçada ao filho em altos prantos sob o olhar expectante do irmão.
O casal, não ficou indiferente àquela triste cena e logo os levou para casa onde estiveram uns dias instalados.
O irmão mais novo teria uns 12 anitos e levava como missão de vender água e fazer moinhos de papel em Fátima com a finalidade de angariar alguns tostões para cobrir as despesas da viagem. (Estávamos na década de 40 do sec XX. não havia água canalizada em Fátima e era vendida em cântaros de barro a dois tostões cada copo.)
Durante os poucos dias que o irmãozito passou na minha aldeia, brincou connosco, e num dos momentos que estava junto de nós com uma grande tristeza disse que não podia fazer moinhos de papel porque precisava de uma navalha e não a tinha.
Depois de ouvir tal lamento, fui a minha casa `que, depois de procurar em várias gavetas, fui encontrar uma navalha já com bastante uso. Metia no bolso sem que meus pais se apercebessem e fui dá-la ao rapaz. Agarrou-se a mim a agradecer-me e disse:
-Estou muito feliz porque já posso fazer moinhos de papel para vender!...
Como é que uma simples navalha, ferrugenta de tantas vindimas já ter feito, foi motivo de tão grande alegria para aquele rapaz e para mim porque com tão pouco consegui fazê-lo tão feliz.

História verdadeira

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